(Helaine Ornelas no espetáculo “7 peles”)

Desde muito tempo as histórias fazem parte de mim, desde as lembranças de minha mãe
contando e inventando histórias antes de dormir, pra mim e para o meu irmão, às tardes nas
praças para as crianças, em hospitais e bibliotecas… Esse lugar de aconchego foi se tornando
inspiração, pois era a pessoa que mais admirava, generosamente partilhando aquilo que já me
era precioso, e que tempos depois eu viria a descobrir ser mais uma forma de arte – A arte de
narrar histórias.
E na minha trajetória, a arte sempre me guiou, e foi através dela que pude me ver por inteira e
assim me perceber muito maior do que eu pudesse imaginar. Pois a arte tem esse poder… De
agigantar pessoas. Ou talvez, simplesmente, a sua força esteja em nos dar olhos para enxergar
a nós, e aos demais, com maior leveza, beleza e profundidade.
Escolhi estudar Artes Visuais, atuei na área, me formei mas faltava alguma coisa.. Foi quando
me lembrei das histórias, fui para o interior, conversei com a minha mãe e enquanto ela
procurava os seus materiais eu abri um jornal. E la estava o anúncio de um curso do Teatro
Griô “A arte de narrar histórias”, foi incrível, inacreditável. Eu ainda não conhecia a Companhia
e nem sonhava haver um lugar onde eu pudesse encontrar outros que naquele instante
também buscavam o mesmo que eu.
E desde esse meu primeiro encontro com os métodos, filosofia e valores do Teatro Griô, me
sinto inteira, no meu lugar. Descobri que a arte é minha voz, e nela até o silêncio pode ganhar
outros sentidos, do canto pode surgir o mais potente grito, e que isso só é possível quando
colocamos a palavra à nossa frente.
Desde então já coloquei o satanás preso na garrafa, fiz repente ao lado de nosso Senhor, pedi
ajuda a Olodumarè, fiz poema pra Oxum. Fui diaba, cigana, mambembe, bicho, tabaréu,
orixá… quantas vozes pude acessar, quantos mundos já pude pisar – nesses seis anos – por
escolher estar aqui. Sempre honrando o ofício de ser Contadora de Histórias, pra que as
palavras que não podem morrer, de boca a ouvido, sigam vivas dentro de nós.