Eu tenho poucas lembranças de minha infância sem que a arte estivesse presente. A música, o canto, a palavra, a escrita e a oralidade continuam vivas em mim, latentes e guiando a minha caminhada nessa existência. A contadora de histórias surgiu a partir de um desejo de aperfeiçoar meu trabalho voluntário com crianças de um hospital e, para minha surpresa, durante a formação com o Teatro Griô, dei início a uma profunda viagem interior. Com o passar do tempo e, para minha surpresa, vi-me com asas, pronta para voar, como um dia, um passarinho me contou que aconteceria. Vieram junto comigo, nesse voo, as narrativas, a poesia, os versos, as melodias, os encontros, os personagens, a descoberta de um corpo vivo e de uma alma disposta a se revelar sem medo dos julgamentos. Andei pelas estradas do circo-teatro, ouvi e contei histórias da árvore-tempo e de Mãe Beata de Yemonjá, me diverti com os causos de Zé Bocó e Mané Preguiça e vivi muitos outros momentos inesquecíveis, como o encontro com Iansã, em Yalodê. As histórias, a experiência do teatro vivo, da palavra simples e genuína e a partilha com todos da Cia Teatro Griô me fizeram florescer, mergulhar em por águas profundas e voar sem a preocupação de chegar a algum lugar. E o meu desejo é que esse passarinho continue a voar por muito tempo, cantando, compondo, dançando e, para além da terra, do céu e do mar, narrando muitas histórias!